em Brasil, Copa do Mundo, futebol

A bola dá voltas, João

Meu sobrinho João Gabriel tem oito anos, poucos quilos e não muitos centímetros. Na rua e na quadra, esse brutamontes se assume como “zagueiro”. Sabe Deus o porquê ele inventou de ser zagueiro, mas Deus sabe que sua paixão pelo futebol o deixa maior do que é. Hoje ele chorou sentido porque o Brasil perdeu a Copa do Mundo. Foi, provavelmente, sua primeira e maior decepção. Eu sei como é. Antes de sorrir, chorei. Cresci, desaprendi a chorar, mas nem por isso aprendi a sofrer. Sofro do mesmo jeito. Sofro com a irracionalidade de gostar de uma cor, de um símbolo, de uma bandeira. Queria ter amadurecido, mas fracassei. Ele, feliz ou infelizmente, fracassará. Conheço as lágrimas de quem verá numa bola um brinquedo do qual não se enjoa. Sei que tipo de bicho lhe picou o coração. Apesar de toda a parafernália tecnológica e da elitização do esporte, o futebol sobrevive no imaginário dos meninos e, cada vez mais, das meninas. Aliás, minha sobrinha, irmã dele, Ana Laura, também joga. Que jogue também. Eu queria consolar o João de algum jeito, de qualquer jeito, de todos os jeitos, mas não há jeito para consolo. Gostar de futebol é gostar de um fenômeno que escapa ao nosso controle. Um pênalti, uma falha, um erro, um desvio e toda a nossa esperança vai gramado abaixo. O futebol ensina a perder. O futebol ensina a viver. João precisa chorar para aprender a sorrir adiante. Aprenderá. A bola dá voltas, João.

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