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A Bolsonaro o que é de Bolsonaro

Sempre desconfiei do cristianismo de Jair Bolsonaro. Minto: nunca desconfiei do cristianismo de Jair Bolsonaro. Sempre tive certeza de que era fé de sepulcro caiado.

Não que eu, também cristão, também católico, seja melhor. Sou cristão, sou católico, sou mau cristão, sou mau católico. Em tese, não deveria julgar o cisco no olho alheio, pois sei que há traves no meu. Mas julgo.

Taco pedras, taco pedras duas vezes, taco pedras cem vezes, quando o cristão transforma Cristo em cabo eleitoral. Quando o cristão transforma Cristo numa mentira de WhatsApp, num revólver 38, num pedaço de pau.

Bolsonaro é o católico que jura fé a qualquer credo. Bolsonaro é o evangélico que ataca padres. Bolsonaro é o judeu que estimula o ódio.

Na festa de Nossa Senhora Aparecida, ele e sua corja de arruaceiros fizeram comício. Se o padre falava de fome, eles vaiavam o padre, e não a fome. Se o padre pedia paz, eles entoavam cantos de guerra. Se o padre pedia silêncio, eles vaiavam.

O bolsonarismo é uma espécie de fungo que infestou certo reacionarismo brasileiro.  Uma pose, um trejeito, uma retórica. O encontro entre a fome de preconceito com a vontade de comer da política.

Não é por acaso que Nossa Senhora tem sido, nos últimos quatro anos, menos lembrada como a mãe de Jesus de Nazaré, e mais como uma intranscendente locução interjetiva: “Nossa!”, “Nossa Senhora!”, “Minha Nossa Senhora!”

A propósito, se a Senhora estiver lendo, rogai por nós.

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