Por essa ninguém pode dizer que não esperava.
Um presidente golpista teve voto e tem apoio de idiotas úteis (a ele; inúteis ao país) e golpistas confessos. A revolta da boleia estava anunciada desde os primeiros dias da campanha presidencial – não essa, aquela, de 2018.
Jair Bolsonaro nunca escondeu suas intenções, mesmo quando a contragosto prometeu, para apaziguar um anestesiado Congresso, que jogaria dentro “das quatro linhas da Constituição”.
Que um presidente eleito troque a obediência à Constituição por sustentação política já é prova de que não obedece a Constituição e não lhe adianta a sustentação política.
Constituição e democracia, nas sociedades modernas e contemporâneas, servem de enquadramento da vida política saudável. Poderia ser melhor? Poderia. Mas, desde os gregos até hoje, não inventamos alternativa para organizar a convivência pacífica.
Por isso, respeitar os limites constitucionais e democráticos não deveria nunca ser colocado em questão. É premissa, não moeda. É princípio, não opção. Bolsonaro deveria ter sofrido impeachment quando insinuou o contrário.
Derrotado nas urnas que tantas vezes o elegeram, o futuro ex-presidente encastelou-se na residência oficial e, como um arremedo de Trump, decidiu assistir à revolta de caminhoneiros por todo o país.
Com anuência do Planalto e vista grossa das polícias, é o último ato de um mandato formalmente legítimo, pois conquistado no voto, mas eticamente espúrio, por nunca ter aceitado as regras do jogo.
É provável que a mobilização criminosa, que bloqueia estradas e rodovias do país, impede a circulação livre e promove violência, seja dispersada nas próximas horas. Mas o recado que deixa é inequívoco: o golpe sempre esteve aí. Caiu quem quis.