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Diário (bem à distância) do Qatar #09

Pois é. Depois de um minucioso e sofisticado debate sobre as qualidades éticas, políticas e ideológicas do eleitor Neymar Jr, talvez os especialistas em futebol de urna tenham percebido que o que importa mesmo, numa Copa do Mundo, não numa eleição, são as qualidades técnicas, táticas e físicas do jogador Neymar. O Brasil tem jovens talentosos, sim, mas só tem neste momento um extraordinário – e ele fez falta. Tite optou por Fred como 2º volante e Paquetá à frente. Nem um nem outro, por motivos diferentes, corresponderam. Com um adversário que pouco produziu ofensivamente, Fred ficou sem função. Paquetá, que tinha função, ficou sem inspiração. O desenrolar da partida só não preocupava mais porque a Suíça é uma espécie de ponto-morto do ludopédio. Mas, assim como Messi para a Argentina, Mbappé para a França, Modrić para a Croácia ou De Bruyne para a Bélgica, Neymar é o centro gravitacional do time brasileiro. Ele é bom quando dribla, passa ou define, e é bom quando, sem tocar na bola, atrai marcadores e abre latifúndios para que seus companheiros driblem, passem ou definam. Por isso, sem ele o time perdeu confiança e profundidade, girando em torno do próprio eixo e criando quase nada. Somente depois de todas as mexidas – em especial, a entrada de Bruno Guimarães – a seleção acertou alguns truques e, mais no ímpeto que no mérito, chegou à vitória com um golaço do inigualável Casemiro. Moral da história: quando leio a prosa de Céline me esqueço – enquanto leio – que era fascista. Quando torço para a poesia de Neymar me esqueço – enquanto torço – que é idiota. Numa Copa do Mundo – de futebol, não de voto – é o que importa.

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