em Copa do Mundo, futebol

Diário (bem à distância) do Qatar #17

Portugal impôs à Suíça uma goleada obscena. Foram 6 gols? Foram 6 golaços. Justa recompensa e providencial consolo diante da tragédia demográfica, sanitária e geopolítica que assola país, com a migração maciça de bolsonaristas para lá. Bruno Fernandes (melhor jogador do torneio) e Bernardo Silva fazem no meio-campo português o que Xavi e Iniesta noutros tempos fizeram no meio-campo espanhol. Um controle de jogo reimaginado, sem ganância pela bola, mas com gula pelo gol. Cristiano Ronaldo, um dos maiores atacantes da história, assistiu do banco ao recital. Depois de atuações medianas na fase de grupos, resmungou com o treinador e foi punido. Para sorte de Portugal e para azar do português, Gonçalo Ramos, seu substituto, se responsabilizou por metade do placar. A vitória confirma os lusos como grande força para a Copa, mas terão de enfrentar a temível Espanha que, segundo Luis Henrique, tem o melhor fut… não, parece que não tem mais. Os espanhóis quiseram novamente ocupar Marrocos com seus 10 mil passes, mas os marroquinos ocuparam a vaga na próxima fase. Os mouros venceram e venceram muito bem. Luis Henrique, bom treinador, tinha afirmado que seu time jogava o melhor futebol. Não joga. Muito embora eu aprecie a beleza horizontal do jogo espanhol, essa é uma versão já envelhecida e menos eficiente do Barcelona de Guardiola, sua inspiração óbvia. Ocorre que o jogo mudou desde então. O próprio Guardiola sabe disso. O antídoto para esse domínio foi encontrado por Mourinho, Klopp, Ancelotti. Luis Henrique não percebeu. Não há jeito certo ou errado de jogar, mas se a prova do pudim é comê-lo, a prova do gol é fazê-lo. Depois de certo número de passes, salvo engano, costuma-se chutar à meta. É assim que geralmente os atacantes superam os goleiros; Espanha se esqueceu desse pormenor. Mas é uma geração talentosa que, tudo o mais constante, chegará entre os principais da próxima Copa. Da próxima. Nesta, Portugal e Marrocos merecidamente continuam. Disputarão as quartas como já disputaram a vida.

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