em Brasil, Copa do Mundo, futebol

Diário (bem à distância) do Qatar #18

Com a derrota para a Croácia, chega ao fim o trabalho de Tite. Um trabalho razoável a que faltou acabamento para que se tornasse bom e, mais importante, vencedor. Em competições de alto nível, o que fica é o resultado. Gênios como Telê tiveram oportunidade e fracassaram. Contestados como Parreira tiveram oportunidade e comemoraram. São as voltas que a bola dá. Depois de um primeiro tempo fraco, em que o time croata dominou tempo e espaço, o Brasil voltou com mais volume e criatividade. Empilhou chances e o goleiro empilhou defesas. Coube ao odiado Neymar a missão de inventar um gol, já na prorrogação, que só odiados como ele inventam. Partindo do meio de campo driblou, passou, recebeu, tirou do goleiro e fez. Tudo parecia caminhar bem até que, com sete jogadores à frente da linha da bola, um Brasil que não precisava fazer gols tomou o gol que não precisava. O demônio mora nos detalhes – e nos detalhes das penalidades: o melhor batedor da seleção, um dos melhores do mundo, não bateu. Num raciocínio torto, ficou para a última cobrança – que não existiu. Se tivesse batido, o primeiro gol era certo. Se, se, se: o futebol é feito de mundos possíveis. Neste, bateu Rodrygo. Perdeu. Com sua falha, anunciou a falha de todo o resto. Vexame? Não foi vexame. Desde os primeiros textos desta série eu insisto que a Croácia é, dos times chatos, o mais bonito de se ver. Frio, metódico e técnico como seu craque, Modric. Frio, metódico e técnico que enfrentará uma Argentina quente, selvagem e habilidosa. No melhor jogo do Mundial, Holanda e Argentina empataram em 2 a 2 e decidiram também nos pênaltis. E a expressão dos argentinos era de quem estava ali para isso mesmo: decidir. Com raiva, com fúria, com gula, foram às semifinais. Eles sorriram como os vencedores sorriem. Nós choramos do nosso jeito. Todas as seleções felizes se parecem. Cada seleção infeliz é infeliz à sua maneira.

COMPARTILHE