em Copa do Mundo, futebol

Diário (bem à distância) do Qatar #23

Não sei por onde começar. Não sei como terminar. França e Argentina disputaram um dos maiores jogos da história das Copas. Retifico: França e Argentina disputaram um dos maiores jogos da história dos jogos de futebol. Durante 80 minutos, os argentinos desfilaram em campo. Sob o comando de Messi, o talento de Di Maria e concentração de todo o resto, fizeram 2 a 0 e botaram na roda. Estava fácil a ponto de ficar chato. Até que, num dos poucos contra-ataques cedidos aos franceses, o erro no tempo de bola gerou o pênalti que gerou o primeiro gol de Mbappé. De repente, era outro jogo. Neste outro jogo, Mbappé fez um golaço de voleio e empatou. Dopados de confiança, onze Robespierres anunciavam revoluções no placar, e a virada não veio porque veio primeiro o fim do tempo normal, se é que qualquer coisa pudesse ser chamada de normal nesse episódio. Prorrogação. A câmera buscava Messi e Messi não parecia intimidado. Sua expressão era de quem sabia que teria de começar tudo de novo. E começou. A Argentina conseguiu apaziguar o ímpeto rival e equilibrar as ações. Até que o gênio achou seu gol e finalmente achou sua Copa. Certo? Errado. Do outro lado, Mbappé não queria liberté, egalité, fraternité. Queria guilhotina. Empatou. No último lance, Emiliano Martínez tornou possível uma defesa impossível e garantiu a disputa de pênaltis. Nos pênaltis ele se garante e garantiu o título. Torci pela Argentina a despeito dos cantos, da antipatia, da rivalidade. Torci pela Argentina porque, de tempos em tempos, com a demorada sazonalidade dos movimentos estelares, um deus nasce em qualquer campinho, encanta uns pés descalços, calça uma primeira chuteira e perambula mundo afora fazendo seus milagres. Não importa o hino, a bandeira, a cor da pele ou da camisa. Quando surge, tem de ser reverenciado. Messi é o mais próximo a que um deus conseguiu chegar do deus maior – Pelé.

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