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É tudo mentira. É tudo verdade

Circula nas redes um vídeo em que Bolsonaro é filmado comendo pedaços de carne com farinha. Ele está sentado de maneira desajeitada e derruba a farinha amarela no chão e nas roupas, enquanto experimenta e devolve a carne à forma.

A divulgação foi feita por Fábio Faria, ministro das Comunicações. Portanto, não se trata de um flagrante inoportuno dos questionáveis hábitos higiênicos do presidente, mas uma peça de propaganda. Ele quer comunicar alguma coisa.

O distinto público, ao ver a cena, dividiu-se.

Para uns, Bolsonaro é um porcalhão incorrigível, que aparenta estar mal preparado para os exames que o aprovarão à fase seguinte à do estágio anal do desenvolvimento infantil.

Para outros, toda a cena é apenas jogo de cena, e Bolsonaro, mais uma vez, simula um comportamento que, em sua primitiva visão de mundo, se parece com o dos mais pobres e menos escolarizados – os “populares”, com quem imagina ter alguma identificação.

Acontece que, conhecendo o ator e conhecendo o personagem, ambas as interpretações são verdadeiras. Bolsonaro é genuíno e é falso a um só tempo. É porcalhão de fato e é porcalhão para fins eleitorais.

Outros políticos, noutros tempos, comeram pasteis que não comeriam, apertaram mãos que não apertariam, frequentaram feiras que não frequentariam. Fazer-se de homem do povo é parte do cardápio imaginativo de todo candidato às vésperas do pleito.

Mas Bolsonaro é um caso bastante à parte. Ele é uma espécie de curto-circuito ético e semiótico. Exagera instintos que de fato tem. Enfatiza limitações que são realmente suas. Faz a sujeira cenográfica que costuma fazer em casa.

Sua existência pública é uma representação despudorada de sua existência privada. Ele não é um homem que tem seus defeitos e os esconde, porque sabe que são defeitos. Ele os expõe porque acredita que sejam virtudes.

Bolsonaro é um fingidor que finge completamente o que deveras sente. Ele é a cara e é a máscara agarrada à cara. Do avesso ao direito, Bolsonaro é aquilo. Somente aquilo. Nem se quisesse, não poderia fingir ser melhor. Derruba farinha em si mesmo há muitas décadas.

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