em Moro

Eunuco político

Um presidente à beira da apoplexia abandona a coletiva ao ser questionado por mentiras que de fato disse. Ao lado, seu braço extremo-direito, alçado ao cargo de roadie golpista durante a campanha, assume a entrevista. Súbito, vários jornalistas abandonam o local, como se suas opiniões não importassem. E não importam mesmo.

O que poderia ser um delicioso episódio da série Veep, protagonizada por Julia Louis-Dreyfus, que faz o papel da vice Selina Meyer em suas desventuras com uma equipe não exatamente competente, foi vivido pelo ex-juiz, ex-ministro, ex-futuro presidente, ex-herói da tribo e atual eunuco político, Sérgio Fernando Moro, logo após o debate.

Nessa disputa cheia de figuras tristes, Moro talvez seja a mais triste das figuras. Já vão longe os dias de glória, ele sabe, quando podia ocultar o patrimônio de suas intenções sob a toga da inamovibilidade. Sem os holofotes da Lava Jato a lhe emprestar o brilho que não tem, no campo aberto onde a batalha pelo poder é travada, o paranaense é um homem invisível.

Isolado por quem ajudou a eleger e a legitimar, saiu disparando sua pistolinha d’água e quis renascer como alternativa à direita. Em vão. Aos planos grandiosos seguiram-se as frustrações grandiosas. Numa incestuosa relação em que só há monstros, sem os respectivos médicos, voltou à cena do crime para reatar a indecorosa união. Bodas de pólvora.

Reduzido a si mesmo, não mais paparicado por promotores, jornalistas e estagiários, descobre que seus limites são estreitos. Intelectualmente desfavorecido, moralmente invertebrado, Sérgio Moro se acomoda facilmente ao caixão escuro de um governo podre. Cedo ou tarde, tarde ou cedo, depois de um miserável mandato de Senador, será enterrado na vala comum do esquecimento, junto aos demais companheiros de pilhagem.

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