em Sem categoria

Existe perseguição religiosa no Brasil. E é bolsonarista.

Durante os governos petistas, os cristãos à direita temiam perseguições, censuras e boicotes. Não aconteceram. Muitos acreditavam que Lula liberaria o aborto. Não liberou. Muitos acreditavam que Lula fecharia igrejas. Não fechou.

Ainda assim, no confronto entre o bicho-papão e a realidade, venceu o bicho-pão. O medo de que virássemos uma ditadura comunista foi e continua a ser usado como pretexto para elegermos um homem que nos promete uma ditadura fascista.

A ironia é que a expectativa de que um novo governo Lula se transforme numa caçada aos cristãos tem servido de justificativa para que os cristãos sejam caçados dentro das próprias igrejas. É a santa perseguição. É a perseguição preventiva. 

Depois do inédito episódio na festa da padroeira do Brasil, em Aparecida, em que santuário foi transformado em comitê bolsonarista, outros incidentes têm acontecido. Missas interrompidas. Cardeais, bispos e padres intimidados. (Sem esquecer o frequente vandalismo a terreiros de religiões afro-brasileiras.)

Embora essa verdadeira perseguição religiosa aconteça também na Igreja Católica, no embate entre tradicionalistas e “liberais”, é mais coesa e sufocante nas diversas denominações evangélicas (peço licença para o uso do termo “evangélico”. Sei que existem diferenças).

Reportagem da BBC Brasil detalha o fenômeno. As redes sociais conservadoras dão sua medida. O contato direto o confirma.

Conheço mais de um cristão evangélico que, pelo menos desde a reabertura das igrejas, após o (pseudo) fim da pandemia, não teve coragem de retornar aos cultos. Motivo: negacionismo, pregação política e hostilidade.

O bolsonarismo é um movimento que vampiriza os anseios dos cristãos mais influenciáveis e carentes de alguma representação. Aproveita-se do preconceito progressista e bem-pensante em relação ao cristianismo. Faz uso da rede de apoio que as denominações criaram em comunidades pobres, como uma espécie de SUS espiritual.

Lá aonde o Estado não chega, as escolas falham, os partidos ignoram, pastores servem de conselheiros das coisas do espírito, mas, principalmente, das coisas do corpo. Não se pode servir a dois senhores, diz a Bíblia. Na dúvida, sirvamos o senhor eleito.

Enquanto isso, os cristãos “dissidentes”, que preferem a mensagem do Messias judeu ao papo-furado do Messias brasileiro, sofrem na prática aquilo que os outros cristãos alegam sofrer na teoria.

A Igreja está mesmo sob risco. O lobo está disfarçado de presidente. Oremos. 

COMPARTILHE