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Extremismo com adversativa

Basta que se reprove veementemente um ato ou manifestação – amenidades como, por exemplo, ônibus incendiados, bloqueio de estradas ou reiterados pedidos de intervenção militar – para que apareça o consciencioso leitor – também eleitor – com o dedo em riste: “Todo extremismo é condenável, mas…”.

Ao “mas” segue-se um rosário de justificativas, explicações, razões, contrarrazões, genealogias, provérbios, versículos e recomendações acerca de como supostamente este extremismo equivale àquele extremismo, ou equivaleu, ou equivalerá.

O leitor e eleitor ensinará sobre como, noutros tempos, o outro lado já fez parecido, igual ou pior; ou como nos ônibus incendiados ocorreu autocombustão; ou como os golpistas bloqueiam estradas em nome do ir-e-vir; ou como os que invocam militares invocam democracia.

É a desordem para reestabelecer a ordem. É o retrocesso para estimular o progresso. As novas edições brasileiras de 1984, de George Orwell, deviam ter licença para serem traduzidas como 2018 ou, mais apropriado, 2022.

Truísmo dizer que, sim, todo extremismo é condenável, não, nenhuma ideologia é santa nessa história. Principalmente na história com agá maiúsculo. Entretanto – e aqui a adversativa se impõe –, há que se ter coragem para chamar as coisas pelo nome, para se distinguir perigos reais e imediatos de perigos supostos ou potenciais e, por fim, para admitir que, bem examinadas as coisas, nem todos os males de fato se equivalem.

Eu, que virei à direita logo nos primeiros anos da adolescência, que temi pelo pior quando Lula foi eleito e escrevi contra ele críticas o suficiente para duas voltas e meia ao mundo, sei reconhecer que o “terrorismo” petista não aconteceu.

O PT, repito, merece muitas das críticas que escrevi, merece muitas das que não escrevi, mas não merece todas. Alguns dos temores que eu tinha a propósito do PT e dos seus militantes não se confirmaram. Confirmaram-se com Jair Bolsonaro e o movimento que ele inspira, incentiva e legitima. Um extremismo de boas intenções, de bons costumes – adoçado por “mas”, “entretantos” e “poréns”.

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