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Golpe em construção

Em 2018, Bolsonaro venceu a eleição e, ainda assim, colocou em dúvida a lisura do pleito. Seguindo à risca o exemplo de autoritários de direita e de esquerda, nunca admitiu que tivesse menos do que 100% dos votos. Se algum brasileiro votou em algum candidato que não ele, isso é prova irrecorrível de fraude nas urnas.

Urnas que eletronicamente o haviam elegido muitas vezes antes, também sua família e demais apaniguados. Prometeu apresentar provas de manipulação, não apresentou prova nenhuma, salvo a de suas intenções golpistas. Se antes, para alguns desavisados, seu apreço à democracia tinha indícios fortes de fraude, logo depois as provas apareceram em abundância. Incluindo confissão.

Desde então, durante os intermináveis anos de seu desgoverno, o presidente pouco ou nada fez além de sabotar qualquer governo que fosse possível. Desmontou projetos sociais, desestruturou a política ambiental, riu-se dos milhares de mortos, interferiu onde pôde interferir, demitiu ministros que ousaram ser menos incompetentes que o patrão e, por fim, trocou bilhões por sustentação e votos.

Agora, às vésperas de sua provável (oxalá! amém! bata na madeira três vezes!) derrota, se esforça na última tentativa de contaminar a credibilidade do TSE com o suposto desfavorecimento no número de inserções em rádios nordestinas. A essa altura, o factoide foi tratado como é: fabricação. Bolsonaro não tem provas de nada, nem se importa com tê-las. Ele está convocando seus eleitores e eventuais desequilibrados úteis para contestar o resultado de domingo.

A seu modo, o bolsonarismo é um movimento revolucionário. Uma espécie esquisita de revolução reacionária, que aposta na ruptura, não na reforma. Cotidianamente desacredita os fundamentos da democracia representativa, a separação dos poderes e as premissas do estado de direito. Se preciso, o militante pega em armas, atira e mata. O golpe está em construção há quatro anos. Resta-nos demoli-lo, antes que se transforme num sombrio monumento a ser lembrado pelas próximas décadas.   

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