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Minha (in)definição ideológica

Há muito deixei para trás a âncora das definições ideológicas. Ser de esquerda? Ser de direita? Ser liberal? Ser conservador? Ser reacionário? Ser progressista? Sejam vocês, se quiserem ser qualquer coisa.

Eu sou pouca coisa, acredito em pouca coisa, mato e mato-me por pouca coisa. Mas nenhuma das coisas que sou, que acredito, pelas quais mato ou morro será um conceito transitório e historicamente situado.

Estou razoavelmente seguro dos meus aproximados 5 litros de sangue e 206 ossos. Atendo (ainda) pelo nome de batismo, acho (por enquanto) o caminho de casa, reconheço (ela me reconhece) mulher, familiares (quando próximos), amigos (se constantes) e cachorros (Francis e Nina). Sei as cores do meu time de coração (verde e branco).

Mas, a cada dia que passa, preciso menos dos disfarces que já vesti.

Às segundas-feiras, acordo conservador. Às terças, já não tenho tanta certeza de que conservar. Às quartas e quintas, o tédio me impede de tomar qualquer posição moral: viro Centrão de mim mesmo. Às sextas, entretanto, um ímpeto revolucionário me tira da cama logo cedo e anseio por tomar Bastilhas, Bastilhas que serão invadidas aos sábados e entregues ao antigo dono nas tardes de domingo.

Quero entender os problemas do mundo – quando quero entender os problemas mundo, o que não é todo dia… – um de cada vez.

A economia, o meio ambiente, os costumes, as leis, os pontos corridos ou o mata-mata, nada disso vem com manual de instruções, e o manual escrito de acordo com a distribuição dos assentos na Assembleia Francesa do século XVIII me parece desatualizado.

Pra muitos, essa indefinição equivale a uma rendição. Como já não me importa a opinião dos muitos, fico à vontade para escolher a cadeira vaga em que melhor couber o meu traseiro político. Às vezes, não raras vezes, estarei com você. Às vezes, não raras vezes, estarei com o outro. Às vezes, não raras vezes, estarei sozinho.

De constante, na minha sensibilidade cívica, é a desconfiança de quem concentra muito poder. Seja poder político, seja poder econômico. Seja o controle da cabine do VAR.

A propósito, hoje é sexta-feira. Já vou preparar os coquetéis.

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