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Não é dia de brincar de Chamberlain

Em 1938, Arthur Neville Chamberlain fazia concessões e assinava acordos com a Alemanha de um certo Adolf Hitler em ascensão. Muitos, quase todos, já percebiam o perigo que se avizinhava, mas o ministro britânico acreditava que a melhor maneira de conter o perigo nazista era por meio do apaziguamento. A história infelizmente mostrou, pouco tempo depois, que tolerância demais com gente tolerante de menos termina em fascismo.

Presumo que o menos informado dos leitores saiba do que se trata. Guardadas as proporções devidas, há um golpe em curso no Brasil. Em curso mesmo: neste momento em que escrevo, na tarde da eleição de 2022, a polícia rodoviária federal está deliberadamente impedindo ou atrasando a circulação de eleitores no nordeste do país, região em que a maioria é simpática ao PT.

Desde a redemocratização, nunca as intenções de golpe de Estado foram tão escandalosas. Nunca os respectivos atos para que ela aconteça foram tão coordenados. Bolsonaro passou os últimos quatro anos rejeitando o resultado que o elegeu, e preparando a rejeição ao próximo. Ele fala de jogar “nas quatro linhas da Constituição” como se falasse de um favor que nos faz. Seu eleitorado entendeu o recado.

E eu também entendi o recado histórico. Por essa e por outras razões, votarei pela primeira e provavelmente última vez em Lula. Não por suas virtudes, mas pelos defeitos do seu adversário. Gostaria também de registrar aos porventura ainda indecisos, ou àqueles que não querem votar em Lula sob hipótese alguma: em circunstâncias mais ou menos ordinárias, o voto nulo é legítimo e defensável. Eu mesmo o defendo. Mas há certos dias, há certos momentos, em que abster-se é perigoso demais. Hoje é um desses dias. Hoje é um desses momentos.

Hoje não é dia de brincar de Chamberlain.

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