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O blog morreu. Viva o blog!

No (quase pré-histórico) ano de 2006, sem fluência na digitação ou destreza no computador, Ai Weiwei, artista, ativista, dissidente e figuraça chinês, aceitou o convite do portal Sina Corporation e começou a blogar (me perdoem, nem eu gosto do neologismo, mas não achei outro).

Levou a sugestão muito a sério e pirou na batatinha.

De 2006 a 2009, publicou centenas – centenas não: milhares – de vezes no blog, todos os dias, todas as horas do dia: crítica social e artística, aforismos, notas, entrevistas, diatribes, links, listas e muitas, muitas, muitas fotografias.

Alguém (não me lembro se o curador suíço Hans Ulrich Obrist) definiu sua atividade como “escultura social”. Ele não apenas escrevia e publicava, mas fazia do blog uma plataforma de intervenção sociocultural e de (re, des)construção pública.

Considerem ainda que escrevia a partir da China e contestava o autoritarismo do governo chinês.

(Aqui faço uma pausa para que meus leitores de esquerda se recuperem do susto. Sim, o governo chinês é autoritário – na melhor, na mais amena das hipóteses.)

Resultado?

Em 2009, o Partidão resolveu acabar com a brincadeira e desaparecer com o blog de Ai Weiwei. Ora, quem faz gente desaparecer, faz blog desaparecer.

Por sorte, algum abençoado havia recolhido parte dos textos, outro abençoado os traduziu para o inglês e, do inglês, traduziu-se para línguas diversas.

No Brasil, em 2011, uma coletânea foi publicada pela Martins Fontes: O blogue de Ai Weiwei. Encontra-se por aí, no cartelizado ecossistema dos sebos virtuais.

Escrevo tudo isso para lembrar de um tempo em que blogues apareceram como ferramentas úteis, divertidas, fáceis de se manejar.

Antes das redes sociais, muitos de nós acreditávamos que o blog (como tecnologia) tinha vindo pra ficar: mais gente escrevendo bem sobre tudo aquilo que o mainstream jornalístico não escrevia, mal escrevia ou escrevia mal.

Que pena que não deu certo. Participei da farra nos primeiros anos do século XXI, inspirado n’A Coluna Infame, diário português que revelou o talento de João Pereira Coutinho e Pedro Mexia, por exemplo.

Mas a ferramenta foi aos poucos absorvida pelos grandes jornais, que domesticaram seus colunistas; ou pelas mídias sociais, que vandalizaram o ambiente. E o blog, como possibilidade criativa, subjetiva e bastante independente de escrita, morreu.

Morreu, mas está vivo.

Morreu, mas vaga por aí.

Já que ninguém mais se importa, pretendo escrever com o mesmo espírito dos primeiros blogs – sem ordem, prioridade, organização, metodologia ou periodicidade. Notas, anedotas, textos longos, textos curtos, fragmentos, aforismos, crônicas, ensaios, entrevistas, queixumes, celebrações.

Teremos política, muita política, porque infelizmente nosso tempo é político. Mas prometo escrever sobre livros, filmes, música, imagens, futuro, passado e o que mais me aprouver escrever.

Colaborações (em texto) serão aceitas. Colaborações (em dinheiro) também. Falar com a direção.

Blog público, gratuito e de qualidade.

Este será um “experimento” para homenagear Ai Weiwei.

Que, por sinal, está vivo e são, criando e contestando, como convém a qualquer um que tenha vergonha na cara.

Seja bem-vindo.

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