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O escorpião e o sapo

Pelo menos uma virtude Jair Bolsonaro tem: é burro. Devemos à sua esférica burrice o fato de que, apesar das intenções e das ameaças, foi incapaz de articular um golpe de Estado. Querer ele queria.

Fosse Hamilton Mourão o presidente, sabe Deus o que a sorte nos teria reservado. Ele é suficientemente articulado para engendrar, junto às Forças Armadas, um atentado à democracia.

Espécie de médico e monstro do bolsonarismo, o vice-presidente sabe manejar os talheres institucionais e, quando preciso, mostrar boas maneiras à mesa da Constituição. Mas seu cardápio é variado e nele constam gororobas nada apetecíveis.

Entrevistado pelo jornal Gazeta do Sul, reconheceu a vitória de Lula, afastou a possibilidade de golpe militar e pediu que os manifestantes voltem pra casa. Mas, como o escorpião da fábula, sua natureza é sua natureza. Não pode mudá-la.

Para ele, mais do que razões políticas, o golpe é inconveniente por razões econômicas: “É importante que as pessoas compreendam que não temos liberdade de manobra para uma ação fora do que prevê a Constituição. Isso redundaria em sanções contra o nosso país e, consequentemente, desvalorização da nossa moeda e aumento de juros e inflação, uma situação muito difícil”.

De acordo com o excelentíssimo escorpião, um ato “fora do que prevê a Constituição” – em português, um golpe de Estado – seria um equívoco. Não por princípio, como deveria ser, mas por oportunidade, como é. A rigor, o preço das sanções não compensaria os benefícios da ditadura. A democracia está pagando melhor.

Por enquanto, o sapo está a salvo.

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