em Política, sociedade

O gostinho do golpe

O presidente do Peru anunciou a dissolução “temporária” do Congresso. Eleito ou não, um presidente que fecha o Congresso deixa de ser presidente e se converte em, na melhor das hipóteses, aspirante a ditador.

Pedro Castillo decretou estado de exceção, reorganização do sistema de justiça e prometeu antecipar eleições. (Já vimos esse filme.) Ele vinha sofrendo sucessivos pedidos de impeachment. Lembra alguém?

Foi destituído e preso.

O caso ilustra a realidade latino-americana que, de seis em seis meses, traz uma novidade para que os constitucionalistas tenham o que fazer. A única coisa estável por aqui é a própria instabilidade.

Mas o caso ilustra também uma outra realidade: de norte a sul, não há, em política, nada que tenha acontecido que não possa acontecer de novo.

A melhor bibliografia a respeito de golpes de Estado ensina que os golpes clássicos, barulhentos, cruentos, estão fora de moda. O fast fashion da farda e do tanque na rua teria dado lugar à alfaiataria da corrosão institucional e do estresse democrático.

Quem sou eu para discordar dos especialistas?

Mas especialista nenhum me fará esquecer do momento em que, segurando um copo americano cheio de café, assisti à colisão daqueles aviões pilotados por terroristas contra um dos maiores símbolos do povo americano.

O 11 de setembro mudou para pior o mundo, mas foi também uma lição de humildade. Aprendi a nunca duvidar dos filmes de ação produzidos em Hollywood. Marmelada? Fora de moda? Efeitos especiais? O que já aconteceu será sempre uma possibilidade.

Quando se trata de democracia, é bom pecar pelo excesso.

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