em Bolsonaro, Brasil

O som do silêncio

Não que eu esteja reclamando. O silêncio obsequioso a que se impôs o em breve ex-presidente Jair Bolsonaro tem soado bem aos ouvidos da nação.  Ou da parte dela que não baba na urna eletrônica.

Quatro anos (considerando a campanha eleitoral de 2018) ouvindo barbaridades sobre barbaridades, bobagens sobre bobagens, nos acostumaram (nos impuseram) a um nível de tensão que só aos poucos, bem aos poucos, ainda desconfiados, sentimos arrefecer.

Esse mutismo pode ser interpretado de duas maneiras (a meu ver, complementares).

Ele está ensimesmado porque nada tem mesmo a dizer e, no máximo, tem se ocupado das varizes e, com sorte, de negociar algum tipo de saída honrosa de um desonroso mandato.

Por outro lado, é também um jeito de estimular o ímpeto golpista que anima grupos e militantes país afora, sem, contudo, comprometer-se judicialmente com ninguém. Na dúvida, jogará os súditos ao mar, como fez com todos.

Mas seus eleitores reconhecem que a falta de palavras diz muita coisa, e fazem por ele o que ele não tem coragem de fazer por eles.

Aqui e ali, murmúrios ecoam na caserna. As Forças Armadas, ou parte delas, não se convenceram de que a escolha do eleitor é soberana em democracias, e que o voto é o único tiro a ser dado legalmente.

Já o Partido Liberal ensaia liberalidades golpistas e promete contestar o resultado. Sinceramente? Eu não esperava outra coisa. Estão prestes a fazer aquilo para os quais são feitos.

É provável que tudo dê em nada.

Murmuradores murmurarão nos quarteis, partidos fisiológicos se acomodarão aos arranjos que possam arranjar, a militância prosseguirá vagando como assombrações de folclore, e a desastrosa história de Jair Bolsonaro terminará “não com um estrondo, mas com um gemido”.

Oxalá.  

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