ALAN SANTOS/PR

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Preguiçoso, ignorante, burro, desonesto, louco e mau

A covid-19 já tinha provocado reações draconianas dos governos asiáticos, devastado a Europa e se instalado nos EUA, quando chegou ao Brasil.

Entrou civilizadamente no espaço aéreo, pousou em segurança, fez o desembarque, passou pela imigração, pegou as malas, lidou com a alfândega e declarou que não tinha nada a declarar.

Nenhum passageiro foi tão bem recebido no país desde que as caravelas de Cabral aportaram ao sul da Bahia. Nunca uma tragédia anunciada foi tão insistentemente anunciada.

No estrangeiro, pilhas de cadáveres eram o outdoor macabro da mais grave crise sanitária dos últimos cem anos. No Brasil, Bolsonaro estava preocupado com a liberação de armas e a segurança dos filhos.

Não considerou qualquer tipo de controle nos portos e aeroportos. Não providenciou testes em massa. Não se preocupou em rastrear contaminados.

Negou a gravidade da doença. Minto: negou até mesmo a realidade da doença. Ao mesmo tempo em que negava a doença, acusava a China de propositalmente tê-la inventado.

Quando os primeiros mortos foram registrados, garantiu que não passariam de poucas centenas. Quando muitas centenas foram registradas, jurou que era tudo mentira.

Afirmou, inúmeras vezes, que ninguém morria de covid. As mortes tinham outras causas. A imprensa, os governadores e os prefeitos mentiam para prejudicar seu governo.

Foi contra o isolamento social. Foi contra o distanciamento social. Foi contra o uso de máscaras.

Muitos milhares de mortos depois, aceitou a contragosto os fatos. Mas logo tratou de recusar e publicamente desincentivar as medidas ortodoxas. Recomendou medicamentos ineficazes ou prejudiciais.

No mundo todo, centros e grupos de pesquisa aceleravam o quanto podiam o processo de fabricação de vacinas. No Brasil, o instituto Butantan se aproximava de uma versão.

Mas ele não queria vacinas. Primeiro, porque usavam insumos chineses. Segundo, porque Doria levaria o mérito. Terceiro, porque… Porque não.

Mais de um tipo de vacina começou a ser fabricado, vendido e aplicado. Enquanto pôde, negou, retardou ou boicotou a fabricação, a importação, a compra, a distribuição, o uso.

Se um ministro se rendia às recomendações científicas, trocava de ministro. Uma, duas, três vezes.

Antes que eu me esqueça, importa lembrar que ele também se esquecera do restante do país: em sua lentidão geológica, com muito custo agiu para aliviar as consequências econômicas para pessoas e empresas.

Dias, semanas, meses transformaram o território nacional num imenso cemitério nacional. Famosos e anônimos, pobres e ricos, todos morriam. Bolsonaro fazia motociata e imitava gente com falta de ar.

A realidade se impôs, finalmente, e a vacinação começou, aos poucos, a desacelerar o morticínio. A população brasileira, desconfiada do fanatismo, achou melhor prevenir que remediar.

Não estamos livres da doença, nem todos estão vacinados e as boas práticas sanitárias ainda são importantes. Tudo finalmente em paz? Nada finalmente em paz.

Dias atrás, uma repórter comentou que a vacina reduzia o risco de contaminação.

Bolsonaro retrucou: “Isso é você que está falando. Por que só a vacina?”

Preguiçoso, Bolsonaro não fez o que precisava para entender a pandemia.

Ignorante, esnobou o que se sabia sobre a covid-19.

Burro, não conseguiu entender o que deveria ser feito.

Desonesto, não mudou de atitude quando entendeu.

Louco, colocou em risco a segurança de um país inteiro.

Mau, fez pouco caso disso.

E faz até hoje.

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