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Seu nome é Gal

Não há hora certa – nem errada – pra morrer. Estamos aqui pra isso. Mas Gal Costa morreu num momento em que o Brasil precisava como nunca da imensidão daquela voz, daquelas vozes – a voz aguda do seu canto e a voz grave da sua atitude. Que pena que não deu tempo pra mais um tempo, um compasso, uma nota, um verso, um grito. A música também é feita de silêncio. Gal não tem culpa, não nos deve nada, e ninguém chega ou parte de acordo com as desafinadas sinfonias da pátria. Ela, que tanto nos ofereceu, a essa altura, à altura rarefeita das notas que atingia, tinha mais direitos a reivindicar que deveres a cumprir. Cantora entre cantores, diapasão com o qual se afinam outras grandes intérpretes que aprenderam com ela, Gal Costa foi, é e continuará sendo um dos acontecimentos da música popular brasileira – e da coragem na música popular brasileira. Fatal, profana, tropical, índia, legal – às vezes, “ilegal” –, nunca parou quieta no trono em que lhe colocaram, nunca se ajustou à grife que lhe quiseram vestir. Quando quis, quando precisou, quando achou que devia, rasgou a fantasia e cantou de peito aberto. Sem explicações. Sem expiações. Sem arrependimentos. Eu tenho medo do que vai restar pra nós, de nós, nessa “república federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus”. A vida – como o canto – é mesmo um sopro. Ela morreu hoje, mas seu nome sempre será Gal.

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