em Economia, Lula, Política

Uma hora a conta chega

Gleisi Hoffmann, a batedora oficial do bumbo petista, fez declarações fortes. Fazer declarações fortes é, até onde a vista alcança, o que ela mais tem feito em sua notabilíssima carreira.

Já vi (vimos) esse filme.

Em ano eleitoral, o Partido dos Trabalhadores se divide para reinar: este faz juras de amor à ortodoxia, aquele faz juras de amor à Unicamp; um garante estabilidade, outro anuncia revolução.

Lula é o fiel da balança e – culpem a história – a balança pende para o lado dos banqueiros, que lhe balançam o crédito para financiar o maná do consumo que será entendido como agora-vai. Mas não vai. Ou vai – mas volta.

De todo modo, que Hoffmann pouco se importe com o “mimimi dos mercados” e desconsidere a boa gestão de Palocci (corrupção à parte) significa o que significa: na hora mais escura, quando chegar a conta, o governo do PT se importará e muito com o mimimi dos mercados. Lula não é burro como Bolsonaro.

A não ser que seu mandato ganhe contornos de vingança e a rejeição a Bolsonaro pareça a Lula uma espécie de legitimação de quaisquer loucuras ou irresponsabilidades. Seja na gestão da economia, com o desmantelamento da responsabilidade fiscal, seja na democracia, com um sebastianismo renascido. Qual Lula será eleito? Ninguém tem certeza de nada.

Por isso, o problema desse arreganho ideológico, apito de cachorro eleitoral, é que, ao pretender chamar às armas os seus correligionários, despertará também a atenção das hienas bolsonaristas.

Não que esses bichos trevosos precisem de motivos para arreganhar os dentes. Não precisam. Mas, considerando que o brasileiro é tarado por uma reeleição, o melhor seria não arriscar. Acirrar ânimos e prometer heterodoxias pode resultar em perda de votos de quem está mais pra lá do que pra cá.

O Brasil precisa de uma direita que saiba pelo menos manejar os talheres da civilização, e precisa de uma esquerda que aceite e compreenda, de uma vez por todas, que a economia contemporânea está além de Mises – mas também de Marx.

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